O recém-empossado presidente da Argentina, Javier Milei, deu uma declaração envolvendo o Chelsea, durante uma entrevista a um canal do país no Youtube. Isso porque o setor esportivo também é um dos alvos das mudanças políticas e econômicas que o governante pretende promover em seu mandato.
De acordo com Milei, os Blues são um dos diversos “grupos internacionais de futebol que querem investir na Argentina”. A declaração foi dada ao “La Nación+”, que pertence a um jornal argentino.
— Há muitos grupos internacionais de futebol que querem investir na Argentina. Assim que o novo decreto foi publicado, o Chelsea ficou interessado em investir no país, que está repleto de craques. Existe muito negócio a ser feito. De repente, isto pode representar, em um curto espaço de tempo, investimentos de mais de milhões de dólares.
Entenda a declaração do presidente da Argentina sobre o Chelsea
Na última quarta-feira (20), Milei anunciou um pacote de 366 medidas econômicas que, em teoria, têm como objetivo afastar a crise que assola o país. Batizado de “decretaço”, esse conjunto de medidas envolve privatizações, reformas trabalhistas e desregulamentação da economia.
No dia do decreto, as ruas de Buenos Aires foram tomadas por protestos da população, que se estenderam até a noite. Vale pontuar que, para entrar em prática, ele ainda precisa ser aprovado pelo Congresso do país.
🇦🇷 Já passa da meia-noite em Buenos Aires e manifestantes se reúnem com panelas em frente ao Congresso argentino em protesto ao decreto do presidente Milei, que modificou e revogou 366 normas do país sob o pretexto de “desregulamentar a economia”.pic.twitter.com/bOLr5bwW3T
— Eixo Político (@eixopolitico) December 21, 2023
E onde o futebol entra nessa história? Um dos tópicos no texto desse pacote indica a mudança na Lei Geral de Sociedades (nº 19.550/1984), o que permitiria aos clubes de futebol se tornem sociedades anônimas (S.A.). É algo similar ao que aconteceu no Brasil em 2021. Desde então, diversos times no nosso país, como Vasco, Cruzeiro e Botafogo, deixaram de ser associações sem fins lucrativos para se tornarem SAFs, recebendo investimentos de empresas estrangeiras.
— Esta atualização normativa não deve ser interpretada como uma imposição às mencionadas entidades esportivas para transformarem sua forma atual de organização, mas sim como uma ampliação das opções entre as quais podem escolher livremente a estrutura que melhor atenda aos seus interesses — relata o texto publicado no Diário Oficial da Argentina.
A fala de Milei, que ainda não foi confirmada oficialmente por nenhum porta-voz do Chelsea, refere-se na verdade aos donos do clube. Desde a saída do magnata russo Roman Abramovich, os Blues são administrados pela BlueCo, consórcio liderado por Todd Boehly. A companhia também é dona do Strasbourg, da França, e segundo a fala do presidente argentino indica, parece estar em busca de expandir seu portfólio de clubes.
Os donos do Chelsea podem comprar clubes na Argentina?
Por enquanto, não. Primeiramente, há o fato de que o pacote de medidas passa a valer a partir de sexta-feira (30), de acordo com o portal UOL, “mesmo sem a análise dos deputados e senadores”. Porém, a Câmara dos Deputados e o Senado ainda podem rejeitar o documento. É importante pontuar que o partido de Milei é minoria no Congresso.
Entretanto, ainda que o texto seja aprovado e entre em vigor, há uma grande resistência no futebol argentino para que o clubes se tornem sociedades anônimas.
De acordo com outra matéria do “UOL”, os clubes já haviam se reunido em novembro para “vetar a inclusão das Sociedades Anônimas Desportivas (SADs) no estatuto de futebol do país”. A derrota da proposta foi unânime, com 45 votos contra. A única equipe ausente na votação foi o Talleres.
O texto das medidas aponta que um clube só pode se tornar SAF se houver voto favorável de dois terços dos associados. Só que, na Argentina, os torcedores participam de forma massiva das eleições em boa parte dos clubes — ao contrário do Brasil, onde o poder de decisões fica restrito a um pequeno número de sócios. Isso também pode “melar” a mudança dentro das equipes.
Além disso, há um problema legal. A legislação argentina não possui uma “regulamentação clara sobre o tema” e “muitas equipes precisariam mudar seus estatutos até sua adaptação”. E, por fim, há o fator político. O Sindicato dos Atletas e a Associação de Futebol Argentino (AFA) faziam parte da oposição a Milei nas eleições e declararam apoio ao candidato adversário no segundo turno, Sergio Massa.
Não se sabe se o Chelsea, de fato, demonstrou interesse em investir no futebol argentino. Mas, ainda que seja verdade, os donos dos Blues não devem ter vida fácil para realizar a compra de um clube na terra dos nosso hermanos.