Segundo a emissora “Sky Sports” da Alemanha, o Liverpool já tem acordo verbal com o português Rúben Amorim para substituir Jürgen Klopp. O histórico treinador alemão vai deixar a equipe ao fim da temporada e seu sucessor já teria concordado com um contrato até 2027.
Desde o anúncio de Klopp de que deixaria o clube, no fim de janeiro deste ano, os rumores sobre o possível substituto levaram a diversos caminhos. Xabi Alonso era um dos principais favoritos da torcida, enquanto nomes como Julian Nagelsmann e Roberto De Zerbi foram outros cotados.
Curiosamente, apesar do sucesso de cada um em seu devido contexto, nenhum deles parecia o melhor encaixe para os Reds. Seja pelo caminho que o elenco tomou, a nova forma de jogar que o time adotou e o cerne do modelo de jogo “rock and roll” de Klopp, a melhor decisão parece ser a que foi tomada — Rúben Amorim.
As semelhanças entre Klopp e Amorim
Klopp chegou ao Liverpool em 2015 como o pioneiro de um estilo crescente na Alemanha, popularizado pelo seu Borussia Dortmund: o gegenpressing.
A ideia, a grosso modo, era de um futebol de pressão alta, frenética e grande velocidade e verticalidade logo após o roubo da bola.
Por mais que o jogo do Liverpool tenha se tornado mais pausado com o passar dos anos, o estilo de Rúben Amorim casa com o lado mais “rock and roll” da era Klopp. Seu Sporting é um time que pressiona de maneira compacta, com o time se movimentando como uma só unidade e de maneira feroz.
A forma com a qual o português pratica futebol combina com o que o Liverpool tem no elenco — e, mais do que isso, o treinador teria um claro upgrade em relação às suas peças. Em termos táticos e de elenco, é uma escolha que faz sentido.
Nesta temporada, o Sporting:
- Marca mais gols por jogo (2,93) do que todos os times das cinco principais ligas europeias
- Concede menos chutes por jogo (8,07) do que todos os times das cinco principais ligas europeias
Dados da plataforma Squawka
O 3-4-3 que beneficia van Dijk e Alexander-Arnold
Durante praticamente toda a sua carreira como treinador, Amorim se manteve fiel ao 3-4-3. Inicialmente, isso vai contra toda a passagem de Klopp no Liverpool, que manteve a linha de quatro defensores durante seus nove anos à frente do clube.
No entanto, pode diminuir um ponto negativo da defesa dos Reds no lado direito. Com uma linha de cinco, Alexander-Arnold (ou Conor Bradley) fica menos sobrecarregado e tem mais coberturas.
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O padrão de Rúbem Amorim
O português tem um modelo claro em seus três zagueiros: o defensor central fica no meio de dois jogadores rápidos e com bom tempo de recuperação e mudança de direção, bem como boa capacidade de condução de bola.
Com isso, van Dijk tende a ocupar um espaço de cobertura, característica que o coloca entre os melhores zagueiros de todos os tempos — e o que popularizou sua temporada de 2018/19 praticamente sem sofrer dribles. Com a bola, o zagueiro central também é o responsável pelos passes que quebram as linhas para sair da pressão e, melhor ainda para o holandês, as bolas longas.
Entre os zagueiros das cinco principais ligas da Europa, segundo dados da plataforma “Opta”, capitão do Liverpool está entre os 2% com mais toques na bola. Além disso, é o 4º na Premier League na taxa de acerto de bolas longas.
Com Konaté e Joe Gomez (ou Quansah) ao seu lado para conduzir e gerar linhas de passe, van Dijk se tornaria uma peça ainda mais importante para a construção dos Reds.
A construção em quadrado popular na Premier League
Com dois rápidos zagueiros pelos lados e com qualidade na condução, o time de Amorim tem condições de criar superioridade numérica desde o início das jogadas. Geralmente, o Sporting constrói em uma saída de 4-2-4-1, com o goleiro e os zagueiros na mesma linha.
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Por isso, quando os zagueiros, bem abertos, são acionados, têm de ser capazes de avançar com a bola — caso contrário, seria simples pressionar esse tipo de construção. Os volantes à frente da defesa são responsáveis por progredir o jogo por si mesmos, virando para o gol adversário e conduzindo ou passando, ou servindo como isca para chamar ainda mais jogadores para a pressão.
Caso o adversário tente pressionar o Sporting alto no campo de defesa dos Leões, terá de comprometer mais jogadores, e Amorim usa dos seus dois quadrados no meio para progredir. Os jogadores intercalados diagonalmente, para gerar opções de passe, e os alas colados à linha lateral são o trunfo para passar da pressão.
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Ter quatro meio-campistas cria mais opções no centro e menos espaço entre os jogadores — Amorim gosta disso porque prioriza o jogo pelo meio. Além disso, rende boas condições nas transições defensivas, permitindo que mais jogadores pressionem imediatamente, uma vez que estarão mais perto da bola.
Outro objetivo de manter muitos jogadores no meio é encurtar a distância entre eles. Isso diminui o comprimento dos passes, o que naturalmente facilita a ação do fundamento e diminui o tempo entre os passes, acelerando o jogo. Isso significa que os adversários têm menos tempo para subir e pressionar.
O conceito de atacar defendendo também é exemplificado na construção através de uma linha de defesa alta. Isso ajuda na contra-pressão, porque os zagueiros estão mais perto da zona da bola e, consequentemente, mais perto do meio do campo.
Pontas criadores
Pedro Gonçalves, o Pote, e Marcus Edwards, cria da base do Tottenham, são os pontas do Sporting. Ambos jogam com o pé trocado, cortando para o meio e agindo como armadores, enquanto os laterais abusam do vigor físico para chegar à linha de fundo pelos lados.
Pote está entre os cinco principais criadores de chances do campeonato português (48), enquanto apenas Rafa, do Benfica (11), tem mais assistências do que ele (10). Edwards, por sua vez, criou mais chances em média por 90 minutos do que ambos, com 3,3 — o melhor número na liga entre jogadores com mais de 1000 minutos, segundo dados do Opta.
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Time ‘estreito’
Ao passo em que os pontas do Sporting são muito importantes, o time de Amorim é um dos mais “estreitos” de Portugal — ou seja, mantém sua construção mais focada na região central do campo.
Segundo o Opta, a largura máxima do Sporting — um dado que mede a distância máxima que um time tem lateralmente por sequência de passes — é a terceira menor do campeonato português (24,7m). Apenas Rio Ave e Farense estão abaixo. Porto (26m) e Benfica (25,5m) são dois dos times que mais usam as laterais na liga.
Por outro lado, curiosamente, a minoria das chances criadas pelo time vem do meio. A construção ocorre na faixa central para, ao entrar no último terço, esse movimento ocorrer pelos lados: somente 26,5% das chances do Sporting vêm do centro, muito abaixo de Benfica (35,8%) e Porto (34,8%), segundo o Opta.
Isso se dá, principalmente pela forma com a qual o treinador ataca usando os meio-espaços. Antes do clássico entre Manchester City e Arsenal, pela 30ª rodada da Premier League, a PL Brasil ressaltou o uso dos meio-espaços pelo time de Pep Guardiola. Rúben Amorim também os manipula com maestria na Liga Portuguesa.
Os meio-espaços no Sporting e os pontas do Liverpool
Apesar de ser o mesmo espaço e, na prática, uma ideia muito parecida de aproveitá-lo, Amorim e Guardiola manipulam essa região de maneira diferente. O português gosta de usar lançamentos em diagonal para o lado oposto do ataque e criar situações de dois contra um.
Quando construindo de um lado, com muitos jogadores perto da bola, ocasionalmente o ala do lado oposto receberá uma diagonal longa para enfrentar o lateral adversário. Além disso, ele recebe apoio do ponta daquele lado, que tende a infiltrar no meio-espaço, nas costas do lateral. Isso é uma forma de aproveitar a vantagem numérica contra times que defendem em uma linha de quatro.
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O meio-espaço para o treinador dos Leões é menos uma zona de armação e mais uma região para movimentos de ruptura, com jogadores atacando o espaço em direção ao gol. Durante fases mais iniciais de construção, é para onde os pontas ou o atacante correm para receber em profundidade.
Isso ocorre porque o ala, bem aberto, atrai a atenção do lateral adversário, aumentando o espaço entre o zagueiro e o lateral. Se algum meio-campista adversário descer para ocupar esse espaço, dará campo ao Sporting na região central, onde o time mais gosta de ter a bola. Se não, deixará um espaço enorme para ser aproveitado.
Os pontas do Liverpool, por sua vez, são naturalmente bons criadores, mesmo que com diferentes características entre si. Salah é o líder de assistências do time (9), enquanto Luís Díaz (4), Jota e Gakpo (3 cada) também têm números positivos na Premier League. Darwin Núñez, atacante que ocasionalmente joga pelas pontas, tem oito.
Os números dos atacantes do Liverpool na Premier League:
- Mohamed Salah: 17 gols e 9 assistências
- Darwin Núñez: 11 gols e 8 assistências
- Diogo Jota: 9 gols e 3 assistências
- Luís Díaz: 8 gols e 4 assistências
- Cody Gakpo: 6 gols e 3 assistências
Cruzamentos que beneficiam meias e laterais
Além da criação pelos lados a partir dos meio-espaços, o time de Rúben Amorim tem grande força nos cruzamentos. O treinador gosta de sobrecarregar a área adversária e empurrar a linha de defesa para trás, com vários jogadores atacando a pequena área.
Isso cria dois principais cenários: o primeiro beneficia os laterais. Quando um dos alas cruza, geralmente o Sporting coloca os pontas, o atacante e o ala do lado oposto na área — o último, no entanto, ataca as costas do último defensor adversário, e geralmente não é visto.
Isso faz com que os cruzamentos fortes na segunda trave muitas vezes encontrem o outro ala livre. E isso tem dado resultado: Geny Catamo e Nuno Santos, dois dos alas dos Leões, têm 5 e 4 gols respectivamente no Campeonato Português.
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Isso é um fator que pode impulsionar ainda mais o Liverpool. Na Premier League, Alexander-Arnold e Conor Bradley estão entre os jogadores com mais finalizações por jogo na equipe: 7º e 8º, respectivamente.
Eles seriam os únicos jogadores que não são atacantes no top-8 da categoria dos Reds se não fosse por Szoboszlai, que é o 4º, com 2,1 finalizações por jogo. Esse padrão de Amorim também pode ajudar o húngaro.
Isso porque o povoamento da área durante cruzamentos, somada à presença de um centroavante alto e perigoso nessas situações — no Sporting, é Gyokeres –, faz com que os defensores se preocupem até demais com a região mais próxima ao gol. Isso os empurra para perto do goleiro e abre espaço na entrada da área para os meio-campistas que esperam para um cruzamento rasteiro para trás, o famoso cutback.
![Por que Rúben Amorim é melhor que Xabi Alonso para Liverpool voltar ao ‘rock and roll’ após Klopp 12 image-24](https://premierleaguebrasil.com.br/wp-content/uploads/2024/04/image-24.png)
Szoboszlai tem em seu chute de média e longa distância uma de suas principais qualidades, enquanto MacAllister soma quatro gols na Premier League mesmo jogando mais recuado. Harvey Elliot (2,3) e Ryan Gravenberch (1,7) têm bons números de finalização por jogo na Europa League, onde recebem mais oportunidades.
Transformando jogadores
Para além do tático, Amorim tem notória influência sobre o percurso da carreira de vários jogadores que comandou no que diz respeito ao psicológico. Historicamente, é inegável que ele transforma seus jogadores em atletas de nível ainda mais alto.
Gyokeres é o exemplo mais recente. Apesar de ter sido grande destaque na Championship com o Coventry na última temporada, o sueco tem 36 gols em 42 jogos em 2023/24, além de 15 assistências. É um registro bizarro para qualquer padrão.
![Por que Rúben Amorim é melhor que Xabi Alonso para Liverpool voltar ao ‘rock and roll’ após Klopp 13 Sporting Gyokeres Premier League](https://premierleaguebrasil.com.br/wp-content/uploads/2024/01/Sporting-Gyokeres-Premier-League-1024x683.jpg)
O antigo centroavante do Sporting, Paulinho nunca havia marcado mais do que 15 gols em uma temporada sob o comando do jovem treinador. Com uma nova função nesta temporada, já são 24 gols.
Pote chegou ao Sporting como um meio-campista central em 2020. Ele se tornou um meia-atacante de grande poder ofensivo e marcou 23 gols na campanha do título um ano depois. João Palhinha também teve a carreira reconstruída e foi ao estrelato com Amorim — hoje, está no Fulham e quase foi ao Bayern de Munique.
Manuel Ugarte e Nuno Mendes são exemplos de jovens que atingiriam nível muito alto com os Leões e foram ao PSG como grandes promessas de suas posições. Pedro Porro deu a volta por cima depois do pouco espaço no Manchester City e hoje é destaque do Tottenham.
Essa é mais uma semelhança com Klopp, que já disse preferir transformar jogadores em estrelas ao invés de comprá-los já no estrelato.
Com uma geração muito talentosa surgindo em Anfield, com Quansah, Bradley, Doak, Clark e Bajcetic, para citar alguns, é possível que Amorim repita sua fórmula nos Reds com grande sucesso em todos os âmbitos.