Luis Rubiales, que protagonizou um caso de assédio à jogadora Jenni Hermoso após a final da Copa do Mundo feminina, vencida pela Espanha, tomou uma decisão acerca do seu futuro na Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) e na Uefa.
Rubiales informou neste domingo (10) que renunciou ao cargo de presidente da RFEF e vice-presidente da Uefa. A renúncia foi confirmada através de entrevista para o jornalista inglês Piers Morgan.
Minutos depois, Rubiales divulgou uma carta com algumas explicações para a decisão. “Insistir na minha permanência não vai contribuir em nada positivo, nem à Federação e nem ao futebol espanhol. Entre outras coisas, existem poderes que impedem meu retorno“, escreveu.
O espanhol de 46 anos também admitiu que tomou a decisão porque lhe garantiram que a renúncia ajudará a estabilidade da candidatura de Espanha, Portugal e Marrocos para sediar a Copa do Mundo de 2030. Mas também assegurou que fará tudo ao seu alcance para se defender e que tem fé que “a verdade vai prevalecer“.
— Eu e a minha família sofremos os efeitos de uma perseguição desmedida, mas também é certo que nas ruas, cada dia mais, a verdade está se impondo — finalizou o agora ex-presidente.
Defenderé mi honorabilidad.
Defenderé mi inocencia.
Tengo Fe en el futuro.
Tengo Fe en la verdad.
Gracias a todos. 🇪🇸https://t.co/yS9rM1HBTm
— Luis Rubiales (@LuisRubiales17) September 10, 2023
O caso de assédio de Rubiales a Hermoso
Rubiales beijou Hermoso à força durante a premiação que as jogadoras receberam, ainda em campo, pela vitória na final contra a Inglaterra, por 1 a 0, em Sydney, Austrália. Depois de uma semana em que se discutiu a renúncia do presidente, Rubiales afirmou, na sexta seguinte ao título, que o beijo foi consentido e que ele não deixaria o cargo por vontade própria.
— O desejo que eu poderia ter ao dar aquele beijo era o mesmo desejo que eu poderia ter ao beijar minha filha, não houve domínio–, afirmou.
— O falso feminismo não busca a verdade , busca colocar a medalha e pensar que estamos avançando. Eles não se importam com as pessoas–, atacou.
No entanto, Rubiales encerrou sua fala sobre aplausos de pé de alguns presentes no evento, inclusive o treinador da seleção espanhola feminina, Jorge Vilda, e da masculina, Luis de la Fuente.
Comunicado Oficial. Agosto 25, 2023. pic.twitter.com/4OqhqwwJ8P
— Jenn1 Hermos0 (@Jennihermoso) August 25, 2023
Depois das falas do presidente, Hermoso se defendeu através de uma nota publicada nas redes sociais e uma entrevista ao jornal espanhol “Relevo”.
— Como pode ser visto nas imagens, em nenhum momento consenti com beijo que ele me deu. Não tolero que minha palavra seja posta em dúvida e nem que se inventem coisas — declarou Hermoso ao veículo espanhol “Relevo”.
— As palavras do senhor Luis Rubiales são completamente falsas e parte de uma cultura manipuladora que ele mesmo começou. (…) Quero reiterar que o beijo não foi consentido e nem do meu agrado. A situação me provocou um choque pelo contexto de celebração, e com o passar do tempo e das primeiras sensações, sinto a necessidade de denunciar o fato. Me senti vulnerável e vítima de uma agressão, um ato impulsivo e machista — continuou a jogadora em longo comunicado que publicou em suas redes sociais.
Na carta, Hermoso também repudia as tentativas de Rubiales de fazer uma declaração em conjunto com ela para atenuar o assédio e pedir desculpas. “Não merecemos uma cultura não manipuladora, hostil e controladora (…) Em nenhum caso, pode ser minha responsabilidade assumir as consequências e transmitir algo no qual eu não acredito, razão que me fez negar as pressões que sofri. Tolerância zero com esse comportamento“, escreveu ela.
Revolta na seleção espanhola
O discurso de Rubiales inflamou o protesto contra o presidente, principalmente entre as jogadoras da seleção feminina da Espanha. No fim de agosto, 53 jogadoras com passagem pela equipe nacional, incluindo todas as campeãs do mundo, assinaram uma carta na qual dizem que não voltarão a defender a seleção enquanto os atuais dirigentes estiverem no comando.
O comunicado foi endossado nas redes sociais pelas jogadoras mais populares, como Alexia Putellas, atual melhor do mundo. Jogadoras de outros países demonstraram apoio — foi o caso da zagueira Mônica, que representou o Brasil na última Copa do Mundo.
Jorge Vilda, treinador da Seleção acabou, enfim, demitido do cargo no último dia 5 de setembro.
O protesto se estendeu ao futebol masculino espanhol. Através de suas redes sociais, Borja Iglesias, atacante do Real Bétis, foi o primeiro a endossar a carta das jogadoras. Ele se disse decepcionado, cobrou que haja punição para Rubiales e declarou que não volta à seleção espanhola até que a situação seja devidamente resolvida.
Já na Data Fifa, que reuniu os jogadores da seleção masculina do país, os quatro capitães do elenco leram um comunicado de apoio a Jenni Hermoso na sala de imprensa no Centro de Treinamento de Las Rozas, antes do treinamento. Os outros atleta do elenco também estiveram presentes no espaço.
Álvaro Morata, Rodrigo, César Azpilicueta e Marco Asensio foram aos microfones contra Luis Rubiales. Morata leu a carta e, em nome de todo o elenco masculino, destacou o orgulho sentido pelo título mundial conquistado pelas jogadores diante da Inglaterra, expressou solidariedade a elas e destacou o comportamento do presidente da federação como “inaceitável”.